Há mais ou menos um mês, encontrei Keith e sua incurável vontade de falar e viver na frente do meu escritório. Ela me falou da nova fase de sua vida e que agora, depois dos 40, ela conseguia perceber mais o valor de tudo e estava agradecida por tudo. Tudo mesmo…
Orgulhosa, me falou que sua amada filha, Laura, lia muito e me perguntou se poderia trazê-la em minha biblioteca: “Ela vai amar conhecer seu espaço, Marcos. Ela é muito inteligente e lê muito!…”.
Me disse que depois destes anos de casada com Luciano, a relação estava mais forte e que agora se amavam melhor e muito mais que antes. Lembramos um pouco de um curto passado que vivemos um presente juntos. Ela ia a minha casa e, com o nosso querido amigo André, ríamos juntos de nós mesmos e de quase tudo.
Keith morreu há dois dias, de um aneurisma cerebral. E de repente, todo passado de Keith não está mais aqui: no presente. Ela não está. Agora, todo passado que ela recordava comigo e com todos que ela viveu, viverá nas lembranças do presente de outras pessoas. Keith viverá também em mim. E enquanto ela estiver em mim, ela estará sempre falando muito, gesticulando rápido e olhando para todos os lados, de olhos bem abertos, e fora daquele caixão.
No velório, a morte de Keith estava no rosto de Luciano que olhava para lugar nenhum e para ninguém. Em seus olhos inchados, de tanto chorar, a dor não encontrou uma aparência definida. A dor não tem fisionomia nítida. Luciano estava ausente do mundo e só: em sua dor e em seu amor… Sofri por ele, enquanto olhava seu olhar que não me via, que não se via ali, que não via o mundo e que não queria ver a mulher que amava, naquele caixão.
Keith, querida, obrigado pelos breves momentos que vivemos e revivemos o presente num curto passado. Sempre lembrarei de você, enquanto o presente e o passado ainda estiverem em mim.
Caro Luciano, espero que, em breve, esta dor te machuque menos, por amar e ser amado demais…
Escrito por Marcos Cesário